terça-feira, novembro 14, 2006

Trinidad


Trinidad localiza-se na província de Sancti Spiritus, a sudoeste de Havana. Próximo dali fica Sierra Escambray, de onde Che Guevara comandou as tropas que desceram para tomar o poder nas proximidades (Fidel e Camilo Cienfuegos concentraram-se em Sierra Maestra, próximo a Santiago de Cuba). Cidade histórica, é possível percorrer a pé Trinidad em poucas horas, passando pela frente da praça, algumas igrejas, bares e um cemitério. A economia é basicamente sustentada pelo turismo, como todo o país. Por isso, os visitantes são sempre alvos de abordagens de pessoas pelas ruas. Um simples conselho para o almoço em um bom restaurante da região pode ser comprado por alguns pesos cubanos.

No centro histórico da cidade, as ruas são calçadas por paralelepípedos. Mas, saindo dali, chega-se a uma área rural, onde mesmo um Buick 59 é visto com curiosidade. Os homens jovens saem cedo para a labuta no roçado, as mulheres ficam a cuidar da casa, crianças vão estudar na escola mais próxima, enquanto os moradores mais idosos passam os dias em suas cadeiras de balanço.

Reza a lenda que certa feita passou por ali um turista, animal estranho naquelas paragens. Com óculos escuros, mochila nas costas e máquina fotográfica nas mãos, logo despertou a desconfiança dos locais. Enquanto os adultos o observavam de longe, as crianças se acercaram. Foram ver o que era aquilo. O mais atirado do grupinho de cinco puxou conversa. Perguntou de onde vinha aquele moço. O forasteiro respondeu e fez que ia sacar uma foto. Logo os meninos se enfileiraram. Fizeram pose para os flashes. Uma, duas, cinco, dez fotos. Era a novidade, o acontecimento do dia. Batia a foto e os meninos a viam automaticamente no view finder do equipamento.

O turista se cansou e foi saindo de fininho. Quando o menininho esperto o chamou de volta: un peso, cobrou. Surpreso, o moço ficou sem reação diante de tal atrevimento. Mas os meninos não arredaram pé. Acuado, então o visitante coçou o bolso, já vazio perto do fim da viagem, sacou algumas moedinhas e as distribuiu entre os pequenos negociantes, fazendo questão de dar a de menor valor ao mais atrevido e a mais valiosa ao mais tímido. A alegria das crianças era indisfarçável. Pareciam que haviam ganho o presente de natal, o ordenado do final do mês, ou, por que não, o cachê de uma sessão de fotos como modelos de um Sebastião Salgado. “Vou comprar um suco para mim”, gritou um deles, pulando e saindo em disparada.

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