quarta-feira, dezembro 13, 2006

CAVEIRÃO NA ZONA SUL

Recém eleito deputado estadual para a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo participou do 12º Curso Anual do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), que aconteceu do dia 30 de novembro a 3 de dezembro, no prédio da Funarte, no Centro do Rio. No encontro foi discutida a relação da Mídia com o Estado, de que maneira os veículos de comunicação contribuem para a manutenção da ordem aí estabelecida e as maneiras para se resistir a isso. Representantes de sindicatos e organizações de todo o país voltaram às suas localidades com algumas dicas importantes de como se criar meios de comunicação que venham como alternativa para o pensamento único imposto pelos jornalões, tvs e rádios dos grandes impérios de imprensa deste país.

Freixo participou da mesa A pauta que a imprensa popular e a sindical precisa, mas falou mesmo sobre Direitos Humanos, sua bandeira mais constante. Professor de História, Freixo é consultor do assunto do deputado federal Chico Alencar e pesquisador da ONG Justiça Global. Em quase 20 anos de trajetória, coordenou projetos educativos no sistema penitenciário, presidiu o Conselho da Comunidade da Comarca do Rio de Janeiro, esteve à frente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ e participou do caso do fechamento da Polinter e da campanha contra o “Caveirão”, em parceria com a Anistia Internacional. Filiado ao PT desde 1986, mudou de partido em 2005 quando foi criado o Partido do Socialismo e Liberdade.

Para Freixo, atualmente, o debate dos direitos humanos é um instrumento de transformação social fundamental. “O eixo da luta de classes mudou do portão da fábrica para a entrada da favela. Violência não é só a criminalidade, mas tudo aquilo que fere a dignidade humana”, sentenciou. Ele lembrou que, diariamente, 132 pessoas são assassinadas no Rio de Janeiro – números superiores a qualquer guerra em curso em todo o mundo - e citou o brutal assassinato da socialite Ana Cristina Johanpeter em uma esquina do Leblon por um menor. O deputado, porém, ressaltou que, no mesmo dia, três adolescentes foram assassinados por policiais dentro de um caveirão. “Por que esta notícia não saiu na imprensa?”, questionou, para em seguida, provocar: “não estou aqui defendendo o extermínio de socialites”, no que foi seguido de algumas palmas.

Freixo rebateu as alegações de facções criminosas de que o tráfico é uma forma de contestação social. “O tráfico é necessário para o poder dominante para se manter a lógica capitalista. Não interessa a ele acabar com o tráfico. Por isso toda manifestação de indignação da classe dominante com o que está por aí é hipócrita”. Para ele, o dever da mobilização é de todos. “Todos nós, não só toleramos essa barbárie, como também a legitimamos”. Segundo estatísticas apresentadas por Freixo, 57% dos meninos que ingressam no tráfico têm entre 13 e 15 anos, 46% deles compram roupas com a venda de drogas, 49% saem do tráfico para ganhar mais dinheiro em outras atividades, números que expressam ainda mais a lógica capitalista do negócio.

Polêmico, Freixo bateu forte na política de segurança pública estabelecida pelo clã Garotinho: “O Estado é inimigo da população”. Citou a chamada “polícia mineira”, milícias formadas por policiais civis e militares e bombeiros que operam nas comunidades carentes, dizendo levar a ordem a esses locais, eliminando o tráfico, mas achacando, extorquindo e impondo terror igual ou pior ao exercidos pelos traficantes. “Quem fumar um baseado na rua morre”, disse. Outro alvo de Freixo foi o caveirão, veículo blindado negro com auto-falantes, utilizado oficialmente pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro que reprime não apenas os traficantes, mas todos os moradores das comunidades por onde entra. “O caveirão entra na favela dizendo: ‘eu vim aqui para levar a sua alma’, ‘trabalhador eu varro com a ponta do fuzil’”. E fez, meio em tom de pilhéria, meio sério, duas propostas: “a de que um dia os moradores da favela não desçam para trabalhar no asfalto e a de que o caveirão passe um dia na Vieira Souto dizendo o que diz nas favelas. As mães de Ipanema e Leblon sairiam de branco em passeata e o William Bonner e a Fátima Bernades apareceriam chorando à noite no Jornal Nacional”.

Questionado sobre como levaria o debate dos direitos humanos à Alerj, casa do Legislativo fluminense responsável pela maior “bancada” de sanguessugas, fez um apelo: “Convoco a todos para lotar o auditório da Alerj para reivindicar nossos direitos e brigar por uma política de direitos humanos mais justa”. Sobre os futuros colegas parlamentares, analisou: “existem cinco deputados que brigam pelas mesmas causas que eu”. Sobre os inimigos enumerou: “Álvaro Lins, Wagner Montes, Jair Bolsonaro e seus filhos, Jorge Babu, que é ligado grupos de extermínio, entre outros”, apontou.

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