sexta-feira, janeiro 19, 2007

Prontos para amar o Grande Irmão

Raras são as exceções de veículos de comunicação realmente independentes em nosso país. Dizem-se em busca das tais “objetividade e da imparcialidade” inexistentes neste ofício, quando o que fazem no fundo é defender a continuidade de um modelo mundial hegemônico de pensar e agir. Enquanto empresas privadas que visam o lucro, tudo o que fazem é garantir o pão deles de cada dia. Deles, entenda-se, dos proprietários e dos anunciantes desses veículos.

A distorção da informação começa nos bancos escolares, com currículos cada vez mais técnicos, com pouca ou nenhuma ênfase nas ciências humanas. Formam-se assim, profissionais quase que totalmente desprovidos de massa crítica, buscando apenas garantir o pagamento de suas contas e aquisições de seus luxos supérfluos pequeno-burgueses. Esquecemo-nos – não posso me excluir da classe, é óbvio - portanto, de nosso juramento: “Juro diante de Deus e dos homens exercer minha profissão com dignidade, jamais esquecendo que antes dos números, virão as pessoas que buscam o amor, a paz e a sabedoria. Juro em nome dos jornalistas e do Brasil, honrar sempre os preceitos da Ética, da Verdade e da Justiça".

“Liberdade de imprensa só existe para os donos de jornal”, já dizia o saudoso mestre Cláudio Abramo.

A manipulação continua quando o foca entra em sua primeira redação, cheia de normas e regras bem determinadas nos manuais de redação. Assim, vai se acostumando às foices do ofício que não variam muito de empresa para empresa, e cria assim, a auto-censura: pronto, agora ele já está apto para amar o Grande Irmão, como o lobomizado Winston Smith, ao final do genial 1984 de George Orwell. Neste estágio soa como incrível ingenuidade acreditar que uma imprensa consciente, aguerrida e questionadora é fundamental para a construção de um país livre, democrático e soberano: “Quão tolos sois vós, que quereis mudar o mundo!”, sentenciarão.

Mas, para não dizer que não falei das flores, reproduzo aqui duas notas publicada em janeiro de 2007 na revista Caros Amigos – honrosa exceção que confirma a regra de que a nossa imprensa não presta - na coluna Entrelinhas, de Hamilton Octávio de Souza:

Tratamento diferenciado

Jornais e revistas deram grande destaque e gastaram muitas páginas para denunciar os atrasos nos vôos comerciais e os prejuízos causados pelos usuários. Em alguns momentos, o assunto foi tratado como sendo um caso de segurança nacional. Os mesmos veículos de comunicação silenciam ou tratam sem importância a crise permanente dos transportes públicos nas principais cidades, onde milhões de trabalhadores perdem inúmeras horas diariamente devido à precariedade dos serviços prestados. Cadê a imprensa?

Comunicação Alternativa

Crescem em todo o país os movimentos e as manifestações em defesa da democratização da comunicação social. O Brasil precisa urgente de canais públicos de rádio e televisão, que expressem livremente as opiniões populares e o pensamento divergente do que é veiculado pelos oligopólios privados e pelos esquemas estatais. Chega de sufoco!

O Manifesto Plural, do alto de sua profunda tolice e ingenuidade, embarca na empreitada de mudar o mundo. Ciço Pereira, seus atuais e futuros colaboradores crêem piamente que é possível, sim, mudar a mentalidade de um país e de um povo com coragem para dar educação e informação de qualidade!

2 comentários:

Anônimo disse...

Sedentos de verdade e da real liberdade de expressão, não só no jornalismo, mas em nossa vida cotidiana, nosso coração dispara, emocionado, diante das exceções. Como encontrar um compatriota em terra estrangeira e hostil.
Feliz será o dia em que a verdade e a ética se tornem tão naturais a ponto de serem vivenciadas sem que possamos perceber. Assim como acontece com a mentira nos dias atuais...

Anônimo disse...

Belíssimo comentário de Carolina sobre emocionante texto do Ciço.
Depois de muito viver, ver e ouvir, passei a ter tranquilidade para agir
com verdade e ética, acreditando que isso será suficiente.
Basta que todos gostem da idéia e que nada perturbe minha convicção.
Ainda acho que vale a pena manter um bom exemplo.