Sonho com sangue
E violência
Agrido o outro como punição
Tenho muito ódio em mim
Ódio, o avesso do amor
Mas também sua face oculta
Odiamos aqueles que gostaríamos de amar
Mas a mágoa e o ressentimento
São os elementos que transmutam o amor em ódio
Permaneço agredindo o outro
Acerto em cheio o supercílio
De onde brota uma gota de sangue
Me aproximo do rosto ensanguentado
Revela-se uma face doce e terna
Sofrida
Amargurada
Ressentida
Magoada
Mas não odienta
O ódio dá lugar à culpa
Da culpa surge o amor
Tal qual o amor a Cristo
Aquele que morreu após ser condenado
Pelo populacho que preferiu salvar Barrabrás
Nós matamos Cristo
E por isso devemos amá-lo
Amo aquele a quem agrido
Mas também me culpo
Por violentar o ser amado
Eis que me aproximo ainda mais
Fito o fundo de seus olhos
Posso ver sua alma
Seu coração
Revelo-me então para mim mesmo
Num ritual de auto flagelação onírica
Exercício de depuração
Do sofrimento recalcado
Meu coração sangra
E o sangue escorre pela face aberta
Pelo amor próprio não correspondido
Que se transmuta em ódio
Amo
Odeio
Agrido
Acaricio
Vivo
Morro
Sonho.
Ciço Pereira. 5 de maio de 2017.
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